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sábado, 26 de junho de 2010

Mauro Kwitko

Ouvi falar em Mauro Kwitko pela primeira vez em 1976. Ele havia participado do 4º Musipuc, em Porto Alegre, com a música "América Moreno". O festival era o principal foco de atenção do radialista Júlio Fürst, que levava as gravações ao vivo para tocar em seu programa "Mr. Lee em Concerto", na Rádio Continental. Logo a composição de Mauro estava rodando na freqüência 1120 AM.
Tempos depois, já formado em Medicina, Mauro foi para o Rio de Janeiro fazer residência em Pediatria. Nessa época, foi apresentado ao cantor Ney Matogrosso por um colega do Hkspoital, seu amigo. Ney sempre deu chance a novos compositores, mas ouviu algumas músicas de Mauro e achou que não eram o seu estilo. O gaúcho não se intimidou. Voltou para o hotel e compôs uma música especialmente para Ney gravar. Depois, retornou para mostrá-la. Começou a cantar:
- Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher...
Imediatamente Ney saltou e falou:
- Pára, pára...
Foi correndo buscar o gravador e disse:
- Grava, grava...
Ney ouviu até o fim, entusiasmado, e disse que gravaria a música. Mas como se chamava? Mauro sugeriu:
- Já que eu fiz a música pra ti, pode colocar o nome que quiser.
Ney escolheu "Mal Necessário". Mauro aprovou. A faixa entrou no LP "Feitiço", de 1978, e tornou-se um clássico do repertório de Ney Matogrosso, sendo até hoje uma das preferidas dos fãs. O que pouca gente sabe é que o próprio Mauro Kwitko lançou sua versão em compacto. Em dezembro de 1979, o compositor participou do Festival da Tupi com "Até o Infinito", parceria com Carmen Seixas. Não se classificou para a final, mas a música saiu pela WEA com "Mal Necessário" no outro lado (erradamente impressa "Mau Necessário"). O produtor foi o lendário Liminha.
Um dia, Mauro procurou Ney Matogrosso na WEA. Lá, encontrou o guitarrista Pisca, que lhe informou que Ney estava agora na Ariola e lhe ofereceu uma carona. No caminho, pegaram um baita engarrafamento. Para matar tempo, Pisca mostrou a Mauro uma melodia que ainda estava sem letra. Mauro ouviu e começou a esboçar alguns versos: "Quando você me chega com olhos de quem me quer..." A música foi terminada ali mesmo. Dias depois, recebeu um telefonema de Pisca:
- Mauro, o Ney vai gravar a nossa música!
- Que música?
- Aquela do engarrafamento!
E assim, em 1982, saiu "Jeito de Amar", mais um sucesso de Ney Matogrosso com a assinatura de Mauro Kwitko.
Logo Mauro se mudou para o Rio, onde morou com os músicos do Bixo da Seda. Como Fughetti Luz estava, naquela época, residindo em Porto Alegre, Mauro ficou de letrista do grupo por um tempo. Com Paulo César Casarin, gravou várias músicas suas. Duas delas, "Cavaleiros da Nova Era" e "3ª Geração", foram licenciadas para a EMI e saíram em compacto. As demais oito continuam inéditas. Quem tem essa fita? Pela qualidade do que foi lançado, é algo que mereceria sair em CD. Casarin viria a tocar na formação-relâmpago dos Engenheiros do Hawaii em 1995 (a mesma que tinha o ex-RPM Fernando Deluqui na guitarra) e hoje está na Automóvel Verde.
Em 1985, Mauro contribuiu para o LP "Música Popular Gaúcha" com o rock "Ikemlikidoa". Um dia eu estava em minha casa ouvindo a música quando o meu sobrinho, na época com 15 anos, entrou no meu quarto com cara de quem já a conhecia. Estranhei, pois não era algo que ele pudesse ter ouvido. Ele me perguntou:
- Essa não é a música dos Abelhudos?
Ele se referia a "Dono da Terra", com a qual o grupo infantil concorreu no Festival dos Festivais no mesmo ano. Não só ele achou as melodias parecidas, como deve ter-se confundido com o primeiro verso da composição de Mauro: "De quem é a terra, de quem pisa nela ou quem lhe ignora." De qualquer forma o LP gaúcho saiu antes do festival. Semelhanças acontecem, mas é preciso frisar que "Ikemlikidoa" foi lançada primeiro. Os Abelhudos eram compostos por filhos e sobrinhos de um produtor da EMI, da qual Mauro foi contratado, e ao sair, deixou lá uma fita com dezenas de músicas e letras. Coincidência?
Conversei com Mauro em 1992 para um trabalho da Faculdade de Jornalismo. Ele me disse que iria lançar um disco independente e inclusive mostrou a partitura de uma das músicas, "Uma Angústia Qualquer" (como se eu soubesse ler música...). Em vez de disco, acabou saindo uma fita em 1996, chamada "Canto Para Uma Nova Era". Mas antes disso, ainda em 92, Mauro viria a vencer a Califórnia da Canção Nativa na Linha Livre com "Barra do Dia". Depois, ao apresentá-la num show em Porto Alegre, ele confessou que não a havia composto como música nativista, mas colocou um arranjo típico para inscrevê-la no festival.
Em 1998, Mauro lançou o CD "Invisible Friends", incluindo várias parcerias psicografadas. É interessante observar que, em uma das letras em inglês, aparece a expressão "light beans", que Mauro traduziu como "grãos de luz". O que o espírito transmitiu com certeza foi "light beams" (fachos de luz). Um pequeno "ruído na comunicação" que confere autenticidade à psicografia.
Atualmente, Mauro Kwitko está mais dedicado ao Espiritismo e à Terapia Reencarnacionista, como se vê em seu site. Mas seria interessante que tanto a fita de 96 quanto as gravações (inéditas ou não) feitas antes fossem resgatadas para lançamento em CD.
publicado por Emilio Pacheco

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